quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A Desumanização e O paraíso são os outros- Valter Hugo Mãe (2013 e 2014)


"A Desumanização" é sobre a morte, é sobre o luto. É sobre o amadurecimento, é sobre a perda da infância, é sobre a desumanização.
"O paraíso são os outros" é sobre o amor, é sobre a infância.

Escolhi falar desses dois livros porque o segundo foi escrito em decorrência do primeiro.O segundo é uma versão para crianças do primeiro.

Em A Desumanização a personagem Halla perde a sua irmã gêmea Sigridur. O livro começa com "Foram dizer-me que a plantavam." Plantavam a sua irmã, a Sigridur. Enterraram-na. Halla conhece então a morte, com onze anos.
A história é narrada pela menina, na sua trajetória até seus treze anos, até seu amadurecimento, até sua perda da infância.
Acredito que a morte da irmã foi o início de seu envelhecimento. Não só pela tristeza, pois ela nos faz envelhecer, mas porque Sigridur sempre me pareceu mais criança que Halla. Era Sigridur que sonhava, que acreditava em príncipes encantados. Sem a Sigridur, Halla envelheceu, entristeceu, amadureceu.

Em O paraíso são os outros, a história também é narrada por uma menina, em breves capítulos entre obras ilustrativas de Nino Cais (artista plástico). Nesse livro a menina fala de sua visão do amor e dos casais apaixonados.

Quando eu terminei de ler A Desumanização, eu não sabia muito o que escrever (e confesso que ainda não sei). Só sabia que eu não queria procurar por outras resenhas ou críticas deste livro porque achei que poderia nelas ler interpretações que eu não teria enxergado, que talvez eu enxergasse um dia. Definitivamente esse é um livro de inesgotáveis releituras. Pretendo lê-lo novamente daqui a alguns anos, pois sei que terei outro olhar e outra leitura. Para me inspirar em escrever algo eu comecei então a reler os dois primeiros parágrafos de cada capítulo, como que para relembrar do que já li, e para a minha surpresa consegui ver na Halla algo que eu não tinha percebido antes.
Algo que eu não sei explicar muito bem, mas que me pareceu muito semelhante com as personagens femininas do Lars Von Trier (de algumas, pois não assisti a todos os seus filmes). Talvez seja uma crueldade feminina, talvez até uma sexualidade, ou uma pureza (não no sentido de inocência, mas talvez de sinceridade pura). Talvez seja porque os filmes de Lars Von Trier também são sobre a Desumanização. Gostaria muito que outras pessoas que gostam de Lars leiam o livro para podermos discutir, ou que venham me refutar.

Sei que quando vi a personagem dessa forma, cheguei até de gostar mais do final, que antes tinha achado previsível. Tinha achado que o percurso tinha sido mais gostoso que a chegada. O final não deixou de me parecer previsível (mas não monótono), mas me pareceu o único destino que a personagem estava destinada a chegar.

Todas as ações de Halla são realizadas por causa do amor, assim como todas as falas da menina de O paraíso são os outros são em volta do amor. Porém é claro que algumas ações de Halla são realizadas também por causa do ódio, seu irmão.

A Desumanização é um livro lindo, triste e poético. O Paraíso são os outros é um livro fofinho, leve e também poético. Espero que eu consiga enxergar os humanos mais humanos depois de ter lido ambos.

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Para terminar, gostaria de dar uma de fã: comecei a ler A Desumanização no avião indo para São Paulo para visitar parentes e amigos e logo me apaixonei. O primeiro capítulo do livro é tão envolvente e tão poético que o Valter Hugo Mãe já me conquistou logo de início. Um dia depois de chegar em São Paulo eu descobri que o autor estaria lá dando uma palestra em alguns dias. É claro que eu surtei. Achei que eu estava destinada para aquela palestra, tamanha a coincidência. Infelizmente, não consegui assistir a palestra (quando cheguei já estava lotada), mas ao menos consegui dois autógrafos dele e uma foto. =)

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